Engenheiro Pra Quê?

Todo Mundo “Sabe” Construir

Muito antes de surgirem os engenheiros, as pessoas já construíam suas casas. Então, engenheiro pra quê? Qual a real importância do Engenheiro Civil?

Engenheiros Civis

Quem nunca ouviu a frase “Engenheiro pra que? Fulano construiu sem projeto e deu tudo certo”, pode se considerar uma pessoa de sorte. Infelizmente a qualidade de um projeto é algo muito difícil de avaliar, até mesmo para os profissionais da área.

Por isso, muitas pessoas acabam considerando o fato da edificação “ficar em pé” ou “não pegar fogo” como um resultado satisfatório, mesmo sem nenhuma garantia de que essas coisas não irão acontecer. A segurança, conforto e economia acabam sendo deixados de lados, ironicamente, para ‘economizar’.

Resolvi escrever este artigo pois é comum ouvir muita reclamação no setor da construção civil sobre os “engenheiros” formados em canteiros de obra. Mas vejo pouco esforço em conscientizar a população sobre os perigos de se construir de qualquer maneira e que a economia que pensam fazer, muitas vezes gera ainda mais gastos.

Acredito que esse problema ocorra pela dificuldade em avaliar a eficiência de algo que nunca aconteceu. Sabemos que um remédio é eficaz pois cura sintomas e podemos sentir imediatamente seus efeitos, mas duvidamos da eficácia de uma alimentação saudável pois ‘um parente’ se alimenta mal e fuma todos os dias, mas tem 105 anos e continua ‘bem’. O mesmo ocorre na construção civil, se ‘Seu Zé’ construiu sem engenheiro e a casa não caiu, então pra que gastar com projeto?

Essa falsa segurança pode trazer sérios riscos aos usuários de uma edificação. Não ter tido um incêndio até um momento, não significa que nunca irá ter. A casa do seu vizinho estar em pé, importa ainda menos para sua situação. E não se engane, mesmo tomando todas precauções possíveis o risco ainda existe, ele é apenas é minimizado.

Motivos para deixar a “Esperteza” de lado

Segurança

Entre todos projetos necessários para construção, os que necessitam uma maior atenção quando falamos de segurança são: Projeto de Fundação, Projeto Estrutural e Projeto Elétrico. Já publiquei um artigo que trata sobre o perigo desse tipo de “economia” no Projeto de Fundação, onde o cliente queria utilizar um número reduzido de estacas sem realizar a sondagem e estudo do solo.

Por mais que você, ou seu “engenheiro”, acreditem profundamente que o solo da região seja resistente e estável, é importante realizar os estudos e projetos necessários para garantir a segurança.

Por mais que seu ‘faz tudo’ já tenha instalado fiação em centenas de residências, cada uma delas utiliza equipamentos elétricos diferentes, utilizados por períodos e em horários diferentes e têm alimentação elétrica diferente. Por mais que ‘Seu João’ tenha confiança absoluta que uma viga de 40cm “aguenta o tranco”, é a sua família que estará em risco se ele estiver errado.

Uma rápida pesquisa no Google nos mostra dados muito tristes sobre a construção civil em nosso país:

Notícias sobre Desastres na Construção Civil

Pesquisando por “Incêndio” + “Casa” e “Desabamento” + “Casa”, temos respectivamente 3,75 milhões e 68,8 mil notícias, com as primeiras sendo de alguns dias atrás, ou mesmo algumas horas.

Muitas dessas tragédias poderiam ter sido evitadas com um planejamento adequado. No caso dos incêndios, seria necessário avaliar a causa, mas pela quantidade, sabemos que muitos deles foram causados por falhas elétricas evitáveis.

Já para os desabamentos, independente do motivo, poderiam ter sido evitados. Existem diversos métodos construtivos adequados e técnicas para estabilização do solo que permitem construir em locais que, normalmente, não suportariam uma edificação. Mas a mentalidade de que “comigo não vai acontecer” faz com que as pessoas subestimem o risco de construir sem um projeto.

Vale a pena colocar sua vida em risco por um achismo? Tenho certeza que as vítimas desses incêndios e desabamentos nunca acreditaram que isso poderia acontecer com elas.

Conforto

É quase impossível que, em algum momento de sua vida, você não tenha se deparado com problemas de conforto em alguma casa ou apartamento. Problemas comuns que poderiam ser evitados, sem custo adicional, que vão se tornando cada vez mais insuportáveis ao longo dos anos.

Seja uma pia que só pode ser usada ao fechar a porta do banheiro ou um cômodo sem ventilação, todos já passamos por situações que só ocorreram por pura falta de planejamento.

Infelizmente, mesmo contratando um Engenheiro, esses problemas ainda podem acontecer. A elaboração do Projeto Arquitetônico é uma constante negociação entre o que o cliente deseja e o que o profissional acha que ficaria melhor. Já passei por situação em que precisei ameaçar largar o projeto para que o cliente aceitasse que o recuo mínimo entre sua janela e a divisa do terreno deveria ser 1,5m, mesmo mostrando a lei que trata sobre o assunto.

Além disso, há também a complexidade natural do Projeto. Por mais que o profissional considere todas variáveis, é muito provável que ele não tenha conhecimento de todas soluções possíveis e métodos existentes para solucionar todas situações.

Não existe uma fórmula mágica para resolver esse tipo de problema, porém, quanto mais profissionais tiverem acesso ao projeto, mais melhorias poderão ser aplicadas, por isso sempre indicamos que uma revisão de projeto seja feito por outro profissional.

Apesar de não ser algo exigido pela prefeitura, existe um indicativo de qualidade importantíssimo que pode ser utilizado para avaliar projetos arquitetônicos; assim como os eletrodomésticos, as casas também possuem classificação de eficiência energética.

Economia

Como disse no início deste artigo, o fato de uma edificação “não cair” nunca deveria ser utilizado como indicador de qualidade ou argumento para qualquer coisa. Se construirmos uma casa térrea utilizando vigas de 25×50 e pilares de 30×60, provavelmente estaremos superdimensionando a estrutura e encarecendo o projeto.

Além disso, aumentar as dimensões trará uma falsa segurança, pois “maior” nem sempre significa “melhor” em construções. Aumentando as dimensões do elementos estruturais você também aumenta seu peso e, sem calcular o aço de acordo com as novas dimensões, aumenta o risco de colapso da estrutura.

Outra (des)economia muito comum é a necessidade de reparos logo após a entrega da obra. Rachadura, mofo e infiltração são algumas das patologias comuns em casas mal planejadas ou mal executadas. Assim como o engenheiro projetista, o engenheiro que irá acompanhar a obra também é de extrema importância. Uma construção bem planejada dura anos sem que haja necessidade de grandes intervenções.

Conclusão

Se mesmo com profissionais qualificados ainda existe o risco de haver problemas na obra, por que arriscar? O engenheiro, além de elaborar o projeto e/ou acompanhar a execução, é responsável técnico e legal da obra, portanto, deve arcar com qualquer problema que venha a surgir durante ou após a entrega da obra.

Matheus Carvalho

Engenheiro Civil na CarLuc Engenharia CREA - RS238065